martes, 30 de xuño de 2020

Feijóo, o PPdeG e a hegemonia

É claro que Feijóo é o mordomo político das elites económicas, mas a esquerda parece conforma-se com ser a aristocracia cultural duns sectores subalternos aos que reganhar eternamente.


CARLOS CALVO VARELA

”¿Por qué gana la derecha?”. Este é o título dum vídeo de 2012 em que Xosé Manuel Beiras explicava a Pablo Iglesias em La Tuerka as razons das vitórias eleitorais do PP. Mas também é um excelente resumo da teoria da dominaçom que forma parte da filosofia espontânea da esquerda galega. Segundo Beiras, a sociedade dividiria-se entre umha minoria ativa de cidadaos exercentes e desalienados e umha maioria passiva de cidadaos nom exercentes (nom sendo para votar) e submetidos à alienaçom através do marketing, a manipulaçom e os poderes mediáticos. Pondo de exemplo o caso do Prestige e a escassa traduçom política do descontentamento nas eleiçons, Beiras sublinha como os “segmentos ativos, lúcidos e que pensam em termos críticos” nom som capazes assim de operar grandes transformaçons. Como culminaçom deste argumento o líder nacionalista acha atualmente impensáveis as mudanças sociais importantes através de eleiçons.

 
DIEGO AMEIXEIRAS Feijóo na hora da sobremesa

Esta filosofia espontânea da dominaçom é umha das herdanças fossilizadas da vulgata leninista, a da noçom de “ideologia” como engano, ilusom, estafa ou ocultaçom que haveria que desvendar (a desafortunada metáfora do “rei despido” que se está a usar nesta campanha). Mas também tem a ver com o inconsciente professoral de boa parte dos quadros e dirigentes do nacionalismo galego. Neste sentido Bourdieu falava da “vaidade” das tomadas de posiçom políticas “que consistem em aguardar umha verdadeira transformaçom das relaçons de dominaçom” como “fruto da predicaçom racional e a educaçom ou, como às vezes pensam de forma ilusa os mestres, de umha ampla logoterapia coletiva cuja organizaçom corresponderia aos inteletuais”. Tal conceçom da dominaçom remata dando em consequências graves: a primeira, numha relaçom paternalista com os subalternos, eticamente intolerável e politicamente nefasta (cujo corolário som os tradicionais insultos às classes sociais que se pretendem defender —os dinossauros que amavam os meteoritos, as cidades em descomposiçom, o povo suicida, et cétera—, explicitados quando os resultados eleitorais som frustrantes) e que, aliás, nos inabilita para dar conta das verdadeiras causas que tornam “razoável” que a gente comum vote num partido neoliberal como o PPdeG. Naturalmente, o poder mente e manipula no seu interesse todo quanto pode, mas nengumha “revelaçom”, mesmo que seja no programa de Jordi Évole, vai ser decissiva para erodir a hegemonia dum partido em que a gente nom vota precisamente porque pense que é impermeável à corrupçom.

Bourdieu falava da “vaidade” das tomadas de posiçom políticas “que consistem em aguardar umha verdadeira transformaçom das relaçons de dominaçom” como “fruto da predicaçom racional e a educaçom ou, como às vezes pensam de forma ilusa os mestres, de umha ampla logoterapia coletiva cuja organizaçom corresponderia aos inteletuais” 
Com esta pobre artilharia conceitual a esquerda nom parece ter muito que fazer ao enfrontar-se com umha cultura política, a do PPdeG, fundada por um homem como Fraga que na década de 1950 já citava Gramsci para as batalhas culturais do novo franquismo pró-estadunidense e que no processo autonómico encetou um dos exemplos mais impressionantes de revoluçom passiva. Também Feijóo está a demonstrar ser um discípulo mais que solvente, que sabe partir do sentido comum popular para direcioná-lo cara aos seus interesses neoliberais, que continua a praticar com sucesso isso que o comunista sardo chamava “transformismo” e que sabe, sobretudo, que as identidades políticas nom venhem pré-definidas polas relaçons económicas objetivas senom que se constroem e se desputam nas batalhas culturais, nesse terreno ambíguo por excelência que é o nacional-popular.
Feijóo está a demonstrar ser um discípulo mais que solvente de Manuel Fraga, que sabe partir do sentido comum popular para direcioná-lo cara aos seus interesses neoliberais
Chamar-lhe fascista pode ser moralmente mui reconfortante, mas o adjetivo oculta muito mais do que ajuda a compreender. Esta é umha das liçons básicas do Stuart Hall, quem no seu livro The Hard Road to Renewal: Thatcherism and the Crisis of the Left analisa o projeto hegemónico thatcherista, que qualifica de “populismo autoritário” e que tem muitos pontos em comum com o do populismo conservador galego. Para o teórico jamaicano o “seu êxito e a sua efetividade nom residem na sua capacidade para embaucar um povo ignorante, senom na forma em que se dirige a problemas e experiências reais e vividas, a contradiçons reais —e como, aliás, é capaz de representá-las dentro dumha lógica discursiva que as alinha sistematicamente com as políticas e estratégias de classe da direita—”. É claro que Feijóo é o mordomo político das elites económicas, mas a esquerda parece conforma-se com ser a aristocracia cultural dumhas subalternas eternamente reganhadas, que nom só som as que mais padecem o estigma étnico e as desigualdades de classe senom que ainda por riba tenhem que ver como som continuamente (em cada gesto) reprovadas em exames espontâneos de consciência nacional ou de classe.

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